A Chávena de Humanidade


O Cháismo é um culto baseado na adoração do que é belo entre os factos sórdidos da existência diária. (...) É uma tentativa terna de atingir algo possível nesta coisa impossível a que chamamos vida.

El teísmo es un culto basado en la adoración de lo que es bello entre los hechos sórdidos de la existencia diaria. (...) Es un intento tierno de alcanzar algo posible en esta cosa imposible a la que llamamos vida.

Kakuzo Okakura

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Dissociação

 Adormeço sempre os olhos do sonho. Nem tento nem desconsigo, é apenas assim como decorrem os sentidos que uso para gerir a vida. Noite é dia, dia é noite, mais verdade a noite do que o dia, e vice-versa. Silêncio é som, e vice-versa. E assim.

 Às vezes, no meio de uma conversa qualquer, uma mão ou uma perna minha avança, passa à minha frente, e sou o olhar de uma câmara que será um filme para outros sentirem o que, na verdade, nunca sentiram.

 Outras vezes oiço a minha voz atravessar o espaço. Então, umas cordas vogais - que, ao que dizem, habitam dentro de mim - vibram e contagiam o ar à minha volta, vejo ondas empurrando-se e empurrando o ar, invadindo os outros corpos, vivos e mortos, que reagem a esse empurrão e compreendem qualquer coisa que há uns segundo existia apenas dentro de mim, num lugar sem tempo nem espaço que a ciência insiste em chamar pensamento, e que é apenas a teia onde são tecidas mentiras e verdades, ilusões e realidades, crenças, crendices e vaguidades. 

Porque a realidade nada mais é que um conjunto de acordos, um molho de inconcreções em que concordamos após descartar noventa por cento do que acontece em nós.

E enquanto a gente luta com as escolhas, a ciência chama de dissociação esse eu que esquece o contrato e não escolhe qual eu é o verdadeiro eu, se tal existe. Esse eu que se recusa à obrigação de escolher, de apontar, de dividir, e é, mais uma vez, escolhido, apontado, dividido: dissociado.

domingo, 1 de agosto de 2021

é tão cansativo

há pessoas que carregam uma tristeza dentro delas. escondida, a tristeza dorme num pregue da orelha ou num sinal da pele. de vez em quando, de preferência à noite, a tristeza, esse bichinho, acorda, mexe, e a pessoa esquece sorrir. o bicho da tristeza desacorda a pessoa dela própria, do que foi, de tudo o que está por ser. e assim a pessoa fica cansada, estourada de tanto abrir o nevoeiro à machadada, apenas para, no fim do dia, voltar a dormir, e no dia a seguir voltar a acordar para o mesmo nevoeiro, no mesmo lugar, com o mesmo machado. é tão cansativo.

quarta-feira, 20 de março de 2019

contra el ayer

Así como las sombras son largas
Las noches se nos pegan a la espalda
Se nos suben por las paredes
De la casa interior
Esa que nos puebla los sueños
Como las noches y las fuerzas perdidas
Como las memorias de todo
Lo que querríamos no haber sabido jamás


La noche es lucha blanda
La lucha dura es contra el ayer
Que se alarga sobre el hoy como un ciprés

La lucha dura es contra el mañana
que promete volver a doler

La lucha es sobrevivir

Contra el saber
Contra el comprender
Contra todo lo que daríamos por no poder recordar

Cuándo empezó todo
Cómo
Quién

Pero sobre todo

No saber
No recordar
No comprender

Por qué

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

La sembradora de piedras

Me llaman la sembradora de piedras

Porque intenté resucitar
Granitos
Mármoles
Con agua
Palabras
Lunas fieras

Hoy sé que
Era simple incomprensión

Las piedras ya están vivas
Y el problema era que yo
Desconocía su lenguaje
De opacidad y espera

Hoy yo también soy casi roca
Transito
A un viejo mundo
De silencio y clareza

Mañana.

Mañana cerraré los ojos
Y por fin seré un cuarzo
Una playa
Una sólida forma
De certeza

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Odoiyá

Quando criança
Eu sei que você
Me cuidava escondida por trás daquelas ondas
Gigantes
Quietas
Ameaçadoras

Eu tenho certeza que você
Segurava aquelas águas
Que me deixavam paralisada
À beira da praia
No pesadelo mais longo, mudo e repetido de todo o meu sempre

Me perdoe,
Eu era tão criança
Que nem sabia que você existia

E no entanto
Você existia mesmo
E existia, de certo jeito,
Para mim.

Você existia na minha cor favorita
Tão favorita que era inútil me oferecer lápis de cor ou caneta
Se não fosse jogo de 36
(Para quem não sabe, a cor do mar só tinha em estojos de 36).

Você existia nos golfinhos de Menduinha
Que eu esperava horas para ver passar
Ao longe no lusco-fusco

Você existia em tanta coisa,
Existia na voz da minha avó,
Que era forte e amorosa
E tinha ficado sem marido.

Você existia no jeito como eu olhava
Para os mapas de África
Decorando uma e outra vez
Nomes de países, capitais, rios

Você existia nos meus dentes separados,
Nos meus seios que viriam a ser grandes
Nas minhas mãos compridas
Nos meus brincos de prata
Nos meus caracóis impostados

Mas você existia, sobretudo,
Nos meus sonhos

Porque em criança,
Quem sabe o porquê
Eu só queria desenhar praias,
Para poder estender o verde-azul do mar
Até o limite do céu
E do papel

Hoje não sou mais crianca
Aprendi que você existe
Me protege, me guarda

Por isso hoje esqueço
Lápis, golfinho, maremoto,
E grito

Odoiyá, Iemanjá!

Odoiyá!

domingo, 6 de janeiro de 2019

Fog

I'd better be dumb
But goodhearted

I'd better be wrong worded
But host truth in my heart

I'd better be trustable
But I got used to forget promises

I'd better be shining
But I got used to live in fog
To make my murderers get lost

Now, that very fog of mine
Has shadowed each and every way
To get to me
Not only to my murderers
But also to my saviours
Even to me
So I'm sitting here
In the middle of my own storm
Trying to find a way
Longing to be someone else
An else that I could have been
Maybe an else I was born as

Buy today my heart's full of
Afterdarks
And dawns
And falls
And rises

And somehow or somewhere
I've lost the key
Or the beverage
To make me big or small enough
To get through the right door
Into my own lightning garden

So I'm still standing here
In the middle of this little closed tower
Fallen from inside a tree
After following the white rabbit

Wondering
Wether I deserve to laugh
Or to be beheaded
Whether I'm the good
Or the bad guy
Or both




Still standing in the fog
While facts go on and
I try to be warm water
But remain stone made
And love, and wish, and regret
All of a sudden
Altogether

Te invito

Te invito a una cirugía:
Coge el cuchillo del pan.
Córtame una rebanada de esternón.
Así.
Eso es. No hay dolor.
Así podrá salir la voz que susurra los desmanes.
Roja y chorreante.
Así podré verla.
Olfatearla. Y no odiarte.

Tú solo ven y asume mi mando.
Ejecuta.
Quizá la guarde en un tubo de ensayo.
La voz.
Y le mida la distancia.
Y la intención.

Pero ven.
Te invito a una cirugía.
Trae tu cuchillo del pan.
Es importante.
Lávate las manos y los ojos
E intenta no mancharte:
Los recuerdos rojos
Pueden ser imborrables.

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Ophelia

Old Ophelia
she's gone deaf
stopped feeding herself
with poisoned words

Old Ophelia
she's mute
stopped spreading her blood
for those who needed her hurt

Old Ophelia
she's gone
sweeped away down the river
sinked amongst the flowers
her killers threw over her
to blind our eyes before their sins

But for the new Ophelia
she's free
left flowers, words, killers
be dragged down to the falls

Young Ophelia
she's new-born
out of the river
wandering through silent fields
looking after her swan

sábado, 12 de maio de 2018

Vikingos

Recuerdo los tiempos vikingos
La noche de los escudos y los panes
Cuando aún éramos todas las posibilidades
Cuando aún no habíamos cargado las armas
Del dolor, la envidia, el desprecio, el vacío
Cuando aún éramos humanos buscando
Extraterrestres en nuestro interior
Buscando despertar de la pesadilla
tejida por nuestras manos, nuestros egos
Cuando aún amábamos la posibilidad de amar
De ser uno
Cuando aún buscábamos la posibilidad de buscar
Ser otro
De construir un barco con cada trozo de sabiduría, de artesanía, de corazón, de mano,
Y arrancar rumbo al sudor y los escollos

terça-feira, 8 de maio de 2018

Recuerdo

Recuerdo no todos
Pero sí algunos de los días
En que se decidió

Se decidió que nuestra casa
Sería solo nuestra

Se decidió que los muebles de otros
En realidad eran nuestros

Y nos sentamos
Unos más cómodamente que otros
En unos sofás azules
Que habían albergado otros cuerpos
Otros corazones

No recuerdo si fue entonces cuando se decidió
Que la culpa es de quien confía
Y por eso quien confía
Se queda sin casa
Sin muebles
Sin (co) razón